quinta-feira, 3 de abril de 2008

Cotas nos meios de Comunicação

(Achei interessante incluir este texto no blog, pois trata de questões que iremos trabalhar junto as crianças e adolescentes do Afrosul : o papel da mídia , a reprodução de imagens estereotipadas e a necessidade da criação de novos referenciais.)

Paulo Paim: Cotas nos meios de Comunicação

O negro é um consumidor em potencial, mas foi condenado a não aparecer nos meios de comunicação social O PL nº 4370/98, de nossa autoria, assegura a participação de artistas negros em programas e peças publicitárias. De acordo com o projeto, os filmes e programas veiculados pelas emissoras de televisão deverão apresentar imagens de pessoas afrodescendentes em proporção não inferior a 25% do número total de atores e figurantes. Enquanto que as peças publicitárias, destinadas à veiculação nas emissoras de televisão e em salas cinematográficas, deverão apresentá-las em proporção não inferior a 40%.

Temos convicção de que a política de ações afirmativas é um dos caminhos para acabar com a desigualdade no país. Ações afirmativas representam todos os aspectos relacionados à educação, saúde, moradia, trabalho, cultura, esporte, lazer, etc. As cotas fazem parte deste contexto. Cotas não são a essência, mas são fundamentais para o avanço da política que ativa a conscientização e diminui o preconceito.

Propomos as cotas na mídia, não apenas para ampliar o mercado de trabalho dos artistas afrodescendentes. A criança negra necessita de referenciais(anjos, fadas, heróis negros), que não sejam somente de atores brancos, para que ela possa ter orgulho de ser negra, respeitar e amar a cor de sua pele, seus traços, seus cabelos.

O negro é um consumidor em potencial, mas foi condenado a não aparecer nos meios de comunicação social. Na televisão não há negros dirigindo automóveis, usando xampu ou bebendo refrigerantes.

Se 48% dos brasileiros são negros, quase metade dos artistas, figurantes, repórteres, apresentadores e locutores seriam afrodescendentes. A propaganda, que poderia estar contribuindo para a superação dos preconceitos e facilitando, pela crítica dos estereótipos, a integração dos afro-brasileiros, só tem contribuído para reforçar sua exclusão.

O trabalho de resgate da auto-estima do afrodescendente é fundamental para que ele assuma sua negritude por inteiro e passe a interagir como alguém que é tão capaz, tão bonito, tão inteligente, tão politizado, tão consciente como qualquer outro. Queremos que o negro entenda que as cotas não visam dar privilégios, mas retirar privilégios.

Quando elas não forem mais necessárias, a exemplo dos EUA, não faremos mais uso delas. Quando os espaços forem igualmente distribuídos. Quando os vestígios do preconceito forem extintos. Quando os homens forem valorizados pela sua capacidade, pelos sentimentos que levam no coração e nunca pela cor da pele, aí estaremos prontos para uma nova era. Estaremos prontos para vivenciar a verdadeira igualdade.





Paulo Paim
dep.paulopaim@camara.gov.br